segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ouro Preto

Recebeu o seu nome esta regiom do Brasil pola cor das pedras de que saia o ouro e nom da cor das maos que o arrincárom. O Potosí brasileiro mantivo a umha coorte de nobres portugueses enquanto a banca inglesa se fazia de ouro, nunca melhor dito, como os genoveses e os alemáns se abastaram a conta dos reinos espanhóis: “Nace en las Indias honrado / viene a morir a España / y es en Génova enterrado”, dizia Quevedo.

De Ouro Preto saiu a primeira tentativa de independência do Brasil, a Inconfidência Mineira de 1789, encabeçada polos notáveis da zona, fartos de pagar-lhe impostos a um governo que rem lhes oferecia. No entanto, só houvo um condenado: um militar de baixo rango com nome 'Tiradentes'. O resto de conspiradores eram ricaços e a monarquia lusa necessitava-os no tempo em que a burguesia lhe tinha ganhando a batalha da história à nobreza na França.

Na Galiza, berço da língua brasileira, séculos antes acontecera um caso parelho que mostra quanto velho é o matrimónio entre poder e justiça. Os camponeses e a escassíssima burguesia junto a alguns fidalgos erguêrom-se contra o feudalismo dos grandes nobres em nome do rei, vendo como a personificaçom da justiça divina, entre os anos 1467 e 1469 e o bando popular recebeu o nome de “pardais” face os “falcons” a alta nobreza. Os irmandinhos fôrom vencidos coma Espartaco caiu em Roma, após mostrar-lhe aos poderosos que eles tamém podem sentir medo, pánico e dor. Os marraos carregados de pólvora abastavam as torres senhoriais como as avaloiras fam cair as maçás- O rei aproveitou-se deles para reforçar o seu poder, mas pouco lhe importavam os seus requirimentos de justiça. Os de sempre, as ratazas, ganhárom e os culpáveis de luitar polo bem comum fôrom punidos e aforcados.

Pedro Pardo de Cela, logo ensalçado pola mitologia histórica nacionalista em romances como Los Hidalgos de Monforte de Benito Vicetto, que gira em torno ao lema “deus fratesque Galliciae”, ou na obra de Murguia; era partidário de colgar dos “caballos” a todos os seus vassalos revoltados. O conde de Lemos, mais agudo, perguntou-lhe quem é que realmente trabalharia entom os seus domínios, acaso os carvalhos?

Anos mais tarde, a sanguinária Isabel I de Castela, chamada polos cronistas do imperialismo espanholista como “La Católica”, mandou decapitar aquel sanguinário senhor feudal na Frouseira. Na verdade, semelha a sua relaçom com Isabel I era boa e a sua queda tivo mais a ver com as suas más relaçons com o favorito desta (daí a lenda de que o perdom real estava de caminho quando o forcárom). Pardo de Cela, um míope político nem tam sequer se opunhera ao curso da história da “doma” da Galiza (o de castraçom foi engadido a posteriori), e a contrário do Reino de Portugal ou os Soutomaior nom apoiara à derrotada Joana a Beltranexa.

Com o passo dos séculos a naçom de Breogám foi espertando do seu sono e, embora a doma e castraçom continue, o discurso de afirmaçom nacional foi calhando. Entom, Pedro Pardo de Cela ergueu-se como símbolo da resistência do povo galego face a Castela, um nobre gris e opressor elevado a categoria de mito libertário para um povo assobalhado.

O Brasil independizou-se nominalmente e, efectivamente, umha minoria foi independente. A grande massa social seguiu sendo escrava e a escravatura continua lá disfarçada aguardando por umha segunda independência que a apague: a da classe operária na construçom dum Brasil brasileiro. A Galiza ficou oprimida por Espanha até hoje num regime para-colonial e ameaçada mais do que nunca com a perda da cultura comum: a galego-portuguesa. Nós os galegos conscientes de ser galegos e de pertencer a classe trabalhadora, aguardamos que a luz volte a caduca Ibéria dos filhos de Breogám e a qe os tempos das suas emancipaçons, a social e a nacional, sejam chegados. Orate pro nobis.



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